quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O que acontece na Vila Cruzeiro



Esta é uma carta real, com relatos reais de alguém que vê, convive com as histórias da Vila Cruzeiro.

Queridos amigos e irmãos,
Que bom saber que temos como retaguarda a oração e o clamor dos que amam a Deus juntamente conosco.
"Como são admiráveis as pessoas que se dedicam a Deus. O meu maior prazer é estar na companhia delas" Sl 16.3

No sábado passado tivemos uma programação profética no campo ao lado da igreja.
Foi algo inesquecível e marcante para o nosso ministério.
Nas semanas que se antecederam começamos a orar por duas coisas específicas: A primeira que Deus retirasse o poder das mãos dos traficantes e a segunda que Deus mostrasse para nós e quebrasse o lugar por onde entra a legalidade das maldições daquele lugar.

Essa semana tivemos duas dessas respostas. Ouvi o secretário de segurança do RJ falando que o Estado não estava apenas tomando drogas ou armas, mas reestabelecendo território. Essa palavra me chamou muito a atenção, pois tinha muito a ver com o que estávamos pedindo. Queremos que Deus abençoe a Vila Cruzeiro por meio das autoridades delegadas por ele para tornar feliz o seu povo.

A segunda coisa foi a imagem emblemática dos bandidos fugindo.
Percebi naquele momento onde estava o "lugar da legalidade" da Vila Cruzeiro.

O cenário que nos foi mostrado não são apenas pessoas correndo, mas sim demônios fugindo, como já vi espiritualmente em outras situações os demônios representados na vida deles quando estavam fortemente armados em uma ocasião da Vila Cruzeiro.

Li certa vez um livro chamado: Cidade de Deus e cidade de satanás. Esse livro revela o que torna uma cidade um centro de visita dos anjos ou demônios. Infelizmente temos visto, há 8 anos a Vila Cruzeiro como esse ambiente de transitação de demônios que têm trazido perversidades infindas e inacreditáveis.

Tenho dito que nesses 8 anos tenho visto o que jamais acreditaria se me contassem: Os abusos morais, físicos e psicológicos pelos quais os moradores passam. As privações das condições básicas afligem a nossa alma nos fazem ver na prática a palavra de Deus que afirma "Os maus fazem com que fracassem as esperanças dos necessitados, mas esses são protegidos pelo Senhor" (Salmos 14.6)

Temos a alegria de servir a Deus em uma igreja que se chama "Nova Esperança" e sonhamos juntos com todos os cidadãos de bem que as esperanças dos necessitados que os maus fizeram fracassar, sejam retomadas.

Temos sonhado com uma geração de crianças que conheçam a paz, para que em, conhecendo-a possam também produzi-la e se tornarem bem aventuradas por serem pacificadoras.

Sonhamos com crianças que saibam o que é andar em uma rua sem ser desrespeitada por uma arma e por toda a violência moral que são obrigadas a passar. Pois têm sido muitas as marcas deixadas nos corações dos pequeninos e infelizmente temos feito parte desse indecente cenário que tem como cicatrizes tantas histórias de perversidades. Uma delas é o caso de duas crianças de 5 e 6 anos que frequentam nossa igreja:

Com fome, uma delas foi pedir um biscoito à mãe e essa respondeu dizendo que já estava na hora dele sustentar a casa. Já estava em tempo dele se armar de um fuzil para manter a família. Não bastando tamanha brutalidade moral, a mãe ainda disse para a filhinha menor de 5 anos que também estava na hora de se entregar sexualmente para alguém do tráfico para ver se garantia os biscoitos que tanto importunavam a pedir.

Às vezes penso que sou jovem demais para ver tanta coisa e acho que para não ter mais essa reclamação tenho envelhecido rapidamente.

Hoje em nós, surge uma vontade ainda mais de trabalhar e esperamos ter os recursos necessários para abençoar a comunidade a que Deus nos responsabilizou.
Sonhamos com o território retomado e com ele os valores de Deus reestabelecidos no meio de uma geração que há muito não conhece a paz e que tem como certos ,os valores desprezíveis e perversos.

Sonhamos acima de tudo que a imagem e semelhança de Deus seja reestabelecida nos corações, no olhar, na voz, nas mãos, nós pés e nas faces, no caráter e na alma para que esse povo finalmente encontre um caminho em que todos vejam a glória do Senhor.
Um caminho onde "O deserto se alegrará, e crescerão flores nas terras secas, cheio de flores, o deserto cantará de alegria. Deus o tornará tão belo como os montes Líbanos, tão fértil como o monte Carmelo e o vale de Sarom.

Todos verão a glória do SENHOR, verão a grandeza do nosso Deus. Fortaleçam as mãos cansadas, dêem firmeza aos joelhos fracos. Digam aos desanimados: Não tenham medo; animem-se, pois o nosso Deus está aqui. Ele vem para nos salvar, ele vem para castigar os nossos inimigos. Então os cegos verão, e os surdos ouvirão; os aleijados pularão e dançarão, e os mudos cantarão de alegria. Pois fontes brotarão no deserto, e rios correrão pelas terras secas. A areia quente do deserto virará um lago, e haverá muitas fontes nas terras secas.

Os lugares onde agora vivem os animais do deserto virarão brejos onde crescerão taboas e juncos. Haverá ali uma estrada que será chamada de Caminho da Santidade. Nela, não caminharão os impuros, pois ela pertence somente ao povo de Deus. Até os tolos andarão nela e não se perderão. Nesse caminho, não haverá leões, animais selvagens não passarão por ele; ali andarão somente os salvos.
Aqueles a quem o SENHOR salvar voltarão para casa, voltarão cantando para Jerusalém e ali viverão felizes para sempre. A alegria e a felicidade os acompanharão, e não haverá mais tristeza nem choro". Isaías 35

Sonhamos com a justiça e a igualdade para que o povo aprenda a retidão "Quando os teus juízos reinam na terra, os moradores do mundo aprendem a retidão" Isaías 26.9

E assim, sonharemos sempre porque cremos que a "geração dos justos é livre" Provérbios 11.21

Mas esse não é apenas o momento do sonho, mas também da ação.
Agora sentimo-nos como Neemias que caminhava entre os destroços de Jerusalém: Orando, sonhando e trabalhando para que a cidade e os muros de Deus sejam edificados entre o povo.
E assim também como Neemias queremos romper o tempo do silêncio pois além das necessidades já mapeadas e existentes, agora outras surgirão em função do que o tráfico também representa, paradoxalmente, para a comunidade.

Meu esposo batizou no início do ano uma senhora de 85 anos catadora de lixo da comunidade.
Desde o momento que entrou para a igreja nos esforçamos para conseguir a aposentadoria dela e graças a Deus tal senhora teve seu direito cumprido.

Mas, mesmo aposentada a renda não dava para manter a família e outro dia alguém mais antigo da igreja e morador da comunidade veio nos trazer a notícia de que tal senhora participava da fila mensal para receber uma cesta básica oferecida pelo tráfico. O irmão zeloso pediu que nos posicionássemos para recriminá-la e exigir que deixasse de receber a cesta básica o mais rápido possível.

Sem desconsiderar as questões éticas da situação, redirecionamos para a igreja uma outra questão que perpassa sobre o que de fato temos feito para que as pessoas não precisem dessa cesta básica.
Afinal não podemos herdar aquela velha mania que os discípulos tinham de "despedir o povo faminto".
O nosso desafio é obedecer a inquietante e antiga ordem do mestre: "dai-lhes vós de comer".

Sabemos que o que temos nas mãos são apenas uns "poucos peixinhos e pães".
Infelizmente os poucos recursos que a igreja tem faz com que as ações sejam muito restritas e limitadas.

As necessidades são grandes e agora mais complexas e a igreja de Cristo precisa ocupar esse lugar que há muito foi tomado em função, não do grito dos maus, mas do silêncio dos bons.
Se o seu apoio em algum dos projetos for possível, ficaremos eternamente gratos.
Se tiverem sugestões também nos alegraremos em ouví-las.

Estamos clamando para que Deus nos oriente e adestre as nossas mãos nessa imensa batalha.
Continuem a interceder por nós porque cremos que o Senhor "trará saúde e cura e nos revelará abundância de paz e segurança" Jeremias 33.6.

Um grande abraço e obrigada pela atenção.

Antonia Regina Ribeiro Leal
Em Cristo, desde sempre, sempre e para sempre

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