quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Dia Internacional da Mulher


Texto publicado em O Jornal Batista por:
Zenilda Reggiani Cintra
Pastora e jornalista, Taguatinga, DF


A premiação do Oscar para o filme As Aventuras de Pi, na categoria de Melhor Trilha Sonora, fez-me recordar da jovem indiana de 23 anos que morreu, no final de dezembro de 2012,  como vítima de estupro. Ela voltava para casa com o namorado depois de assistir esse filme num Shopping de Nova Delhi, quando tomaram um ônibus e os seis homens que estavam no veículo estupraram e torturaram a mulher de maneira brutal. Eles espancaram também o namorado e jogaram os dois fora do veículo em movimento, deixando-a à beira da morte. Jyoti Singh Pandey morreu 13 dias depois com falência múltipla dos órgãos.

O que esse fato tem a ver com o Dia Internacional da Mulher? O dia 08 de março, desde a sua origem, é uma data para chamar atenção sobre os direitos e a defesa da mulher diante da violência e discriminação que tem como raiz a desvalorização do sexo feminino. A ONU também abraçou a data com o objetivo de levar a sociedade a refletir sobre as formas de enfrentar as desigualdades de gênero. Os governantes e sociedades são pressionados a elaborarem políticas públicas anti-discriminatórias, além de promover ações para a conquista da cidadania plena das mulheres.

A violência sofrida pela jovem indiana reflete a cumplicidade de uma cultura que acredita que uma mulher andar na rua significa que ela está pedindo para ser estuprada. Esse é um tema doloroso pela violência do ato, pela desumanidade do agressor, pela violação extrema do corpo, pela dor psicológica e pelo medo de uma gravidez, uma doença e do julgamento social. E também, em muitas ocasiões, pelo descaso da polícia e da sociedade, que vitimiza a mulher ao não acreditar nela, ao dizer que ela 'facilitou' o ataque pela sua roupa 'indecente', por ter andado numa rua deserta ou ter aberto a porta para aquele conhecido em quem confiava e que a atacou.

O estupro é apenas um dos problemas que as mulheres enfrentam. Há ainda muitos outros como, por exemplo, em pleno século XXI, mulheres sofrerem a mutilação genital, uma prática cultural de alguns países africanos, que causa marcas e sofrimentos permanentes, físicos e psicológicos. Impedir que mulheres tenham acesso à educação e vida profissional é outra realidade enfrentada por mulheres e que veio à tona, mais uma vez, com a divulgação da violência sofrida pela adolescente paquistanesa de 15 anos, Malala Yousufzai, em outubro passado, que levou um tiro na cabeça que deformou o seu rosto por defender o direito à educação para mulheres.

Esses sofrimentos femininos estão muito mais perto de nós que às vezes possamos pensar. Podemos ainda mencionar o tráfico de mulheres para a prostituição, a imposição de casamentos, os salários injustos e a exploração sexual de meninas. Outro flagelo é o sequestro para casamento e trabalho escravo de jovens mulheres em países hoje afetados pela restrição da natalidade há alguns anos atrás e que levou muitos casais a abortarem meninas. E são tantas, tantas outras violências morais, físicas, psicológicas e religiosas, muitas vezes inomináveis, frutos do preconceito e da desvalorização da mulher como ser humano.

Como povo de Deus não podemos ficar indiferentes ao que acontece com as mulheres. Comemorar esse dia significa refletir a respeito do valor que Deus atribui a cada mulher, rever nossos conceitos e a hermenêutica dos textos bíblicos, muitos deles ainda interpretados à luz dos mais tristes preconceitos culturais contra a mulher, confortáveis para aqueles que usufruem do poder nos mais diversos contextos ou para aqueles que são subservientes a ele. Seria uma ocasião própria para que nossos seminários, por exemplo, promovessem eventos teológicos para examinar esta questão da mulher sob diferentes óticas e não apenas para reforçar conceitos defasados e oportunistas.

Essa data também oferece uma oportunidade singular de intercessão, de cobrir as mulheres do mundo com oração, de olhar para as que sofrem como resultado dos preconceitos culturais para os quais estaríamos irremediavelmente condenados, não fosse Jesus Cristo, o seu amor e a sua cruz. Também é uma oportunidade de ação, sob a autoridade do Mestre, que diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que... enviou-me para proclamar libertação aos cativos... para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor” (Luc. 4.18,19).