sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Os mundos



Se o mundo fosse como queríamos haveriam vários mundos e todos viveriam sós em seus mundos. Afinal de contas, cada um constrói seu mundo dentro de si e o que pensamos ou deixamos de pensar é propriedade particular de cada um de nós. Por mais que nossas opiniões e idéias sejam as mesmas, ou ao menos parecidas, nenhum mundo é igual.

Se ainda assim quisermos criar o nosso mundo, é hora de dizer ‘adeus’ a idéia de viver em sociedade. A vida ‘só’ seria o nosso destino; famílias, por tanto, também não existiriam; não teria como o ensino existir e também não haveria o porquê dele existir; mas também não haveriam crimes. Mas quem quer viver nessas condições de solidão?

Agora consigo compreender que melhor do que criar o meu mundo é saber viver no mundo de todo o mundo. Afinal de contas, não são as pessoas que precisam entrar no meu mundo e viverem de acordo com os meus pensamentos, questões e opiniões, sou eu que preciso ter a capacidade de me adaptar e entrar no mundo dos outros. Não é uma questão de transformação, mas uma questão de ousadia.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pensar Antes de Reagir



*Capítulo do livro O código da inteligência, de Augusto Cury.

Pensar antes de reagir é uma das ferramentas mais nobres de quem decifra os mais altos níveis do código da autocrítica. Nos primeiros trinta segundos de tensão, cometemos os maiores erros de nossa vida, falamos palavras e temos gestos diante das pessoas que amamos que jamais deveríamos expressar.

Nesse rápido intervalo de tempo, somos controlados pelas zonas de conflito que bloqueiam milhares de outras janelas, impedindo o acesso de informações que nos subsidiariam a serenidade, a coerência intelectual, o raciocínio crítico.

Um intelectual pode dar uma conferência brilhante e responder a todas as perguntas da platéia com maestria, mas quando um colega de trabalho faz uma pergunta que o contraria, pode perder a serenidade da resposta. Reagir sem elegância.

Um médico pode ser muito paciente com as queixas de seus pacientes, mas muitíssimo impaciente com as reclamações de seus filhos. Pensa antes de reagir diante de estranhos, mas não diante de quem ama. Não sabe fazer a oração dos sábios nos focos de tensão, o silêncio. Só o silêncio preserva a sabedoria quando somos ameaçados, criticados, injustiçados.

Se vivermos debaixo da ditadura da resposta, da necessidade compulsiva de reagir quando pressionados, cometemos erros, alguns muito graves. Vivemos em uma sociedade barulhenta, que frequentemente detesta o silêncio. Cada vez mais percebo que as pessoas estão perdendo o prazer de silenciar, se interiorizar, refletir, meditar.

O dito popular de contar até dez antes de reagir é imaturo, não funciona. O que estou propondo é o silêncio filosófico. O silêncio não é se agüentar para não explodir, o silêncio é o respeito pela própria inteligência. É o respeito pela própria liberdade, a liberdade de se obrigar a reagir em situações estressantes. Quem faz a oração dos sábios na é escravo do binômio do bateu-levou.

Quem bate no peito e diz que não leva desaforo para casa, não decifrou o código de pensar nas consequências de seus atos. Quem se orgulha que vomita para fora tudo o que pensa, machuca quem mais deveria ser amado. Não decifrou a linguagem do autocontrole.

Não existem relações perfeitas. Não existem almas gêmeas, que tenham os mesmos gostos, pensamentos e opiniões iguais o tempo todo, a não ser no cinema. Decepções fazem parte do cardápio das melhores relações. Nesse cardápio, precisamos do tempero do silêncio para preparar o molho da tolerância.

Para conviver com máquinas, não precisamos do silêncio nem da tolerância, mas com seres humanos elas são fundamentais. Ambas são frutos nobres do código da autocrítica, do código da capacidade de pensar antes de reagir. Preservam a saúde psíquica, a consciência, a tranquilidade.

O silêncio e a tolerância são o vinho dos fortes, a reação impulsiva é a embriaguez dos fracos. O silêncio e a tolerância são as armas de quem pensa, a reação instintiva é a arma de quem não pensa. É muito melhor ser lento no pensar do que rápido em machucar.

É preferível conviver com uma pessoa simples, sem cultura acadêmica, mas tolerante, do que com um ser humano de ilibada cultura saturada de radicalismo, egocentrimo, estrelismo. Sabedoria e autocrítica não se aprende nos bancos de uma escola, mas no traçado da existência.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Marcados



Eu estava no ponto de ônibus e não consegui parar de olhar para aquela senhora, em seu rosto havia uma cicatriz enorme. Acho que ela percebeu o meu olhar e foi em minha direção com uma voz bem mansa e sua pele enrugada pela idade me falou: “As melhores marcas que carregamos estão dentro do nosso ser.” O que ela queria dizer com isso? Se antes eu estava com uma cara de assustada, agora deveria estar com uma cara de apavorada.

Ela se apresentou para mim e enquanto eu esperava o ônibus ficamos conversando. Na verdade aquela senhora, Dona Serafina, começou a fazer um monólogo, contando tantas histórias que já tinha vivido, tantos acontecimentos que tinha presenciado. Em pouquíssimo tempo eu havia escutado histórias de infância, histórias de reis, histórias de milagres, mas principalmente, histórias reais.

Foi aí que eu entendi o que Dona Serafina dissera sobre marcas que carregamos. Ela estava me mostrando que todos nós somos marcados, que não há na terra alguém que não tenha marcas e que as maiores marcas não são aquelas que aparecem em nossa pele, mas aquelas que carregamos em nosso ser.

Somos marcados e marcamos a vida daqueles que nos cercam. E cabe a cada um escolher o que deixaremos marcar a nossa vida e que marcas queremos deixar na vida das pessoas. É claro que existem situações que não podemos evitar, mas o que podemos escolher, o devemos fazer com sabedoria. Marcar a vida de alguém de forma negativa não trará benefícios para ninguém.

Dona Serafina me ensinou que todos os lugares que escolhemos andar marcam a nossa vida. Seja a escola, o trabalho, a igreja, o shopping ou qualquer outro lugar, nos lembramos dele pelo o que aconteceu ali, pelo o que vivemos. Assim também são as pessoas, somos ‘cicatrizados’ pelo convívio, pelos acontecimentos. E a sabedoria estará em o que e quem deixamos nos marcar e o que marcamos.

É claro que deixei passar alguns ônibus, mas valeu a pena deixar que a Dona Serafina marcasse a minha vida! Depois desse grande aprendizado desejei que o próprio Deus marque a minha vida e que as marcas que eu deixar nas pessoas sejam como a de Cristo, que veio a terra e marcou a humanidade.

De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo” (2Coríntios 4:8-10).

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A arte da acusação



Quem nunca foi acusado por alguma coisa que nunca fez? Pois é... parece que acusar alguém tem sido uma rotina para algumas pessoas. Mas o que significa acusar? Segundo o dicionário, acusar é o mesmo que ‘imputar culpa’, ou seja, ‘atribuir a alguém a responsabilidade de qualquer ato’. Mas e quando essa culpa, ou ato, não existe no acusado e sim no acusador? Ai está o que pode ser definido em alguns casos como a raiz da inveja.

Acusar o outro pode ser uma fulga dos seus próprios erros. Se torna um mecanismo de defesa para o acusador, uma estratégia de se auto-defender.

João 8:1-11
Depois todos foram para casa, mas Jesus foi para o monte das Oliveiras.
De madrugada ele voltou ao pátio do Templo, e o povo se reuniu em volta dele. Jesus estava sentado, ensinando a todos.
Aí alguns mestres da Lei e fariseus levaram a Jesus uma mulher que tinha sido apanhada em adultério e a obrigaram a ficar de pé no meio de todos.
Eles disseram: —Mestre, esta mulher foi apanhada no ato de adultério.
De acordo com a Lei que Moisés nos deu, as mulheres adúlteras devem ser mortas a pedradas. Mas o senhor, o que é que diz sobre isso?
Eles fizeram essa pergunta para conseguir uma prova contra Jesus, pois queriam acusá-lo. Mas ele se abaixou e começou a escrever no chão com o dedo.
Como eles continuaram a fazer a mesma pergunta, Jesus endireitou o corpo e disse a eles: —Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher!
Depois abaixou-se outra vez e continuou a escrever no chão.
Quando ouviram isso, todos foram embora, um por um, começando pelos mais velhos. Ficaram só Jesus e a mulher, e ela continuou ali, de pé.
Então Jesus endireitou o corpo e disse: —Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém para condenar você?
—Ninguém, senhor! —respondeu ela. Jesus disse: —Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais!

Nessa história é possível ver dois tipos de acusação. Aqueles homens estavam com tanta ira que queriam acusar a duas pessoas para alcançar seus objetivos. Primeiro o próprio Jesus: queriam condenar Jesus por ir contra a lei, nesse caso o adultério. E para alcançar o objetivo de tal acusação, acusaram a mulher adúltera também. Mas para se efetuar o adultério é preciso de mais de uma pessoa, ou seja, eles estavam envolvidos naquele fato também. E por fim estavam cheios de pecados, cheios de erros, que ficaram claros quando nenhum deles teve coragem de lançar uma única pedra naquela mulher.

A Bíblia é cheia de histórias que relatam a acusação e em todas elas fica claro que acusar foi apenas uma estratégia para esconder os erros do acusador ou um ato de rebaixar o outro. Nesse último caso a justificativa vem acompanhada da inveja. O próprio Jesus foi acusado em diversos momentos e por diversas coisas. Jesus incomodava porque era um revolucionário, era o Cristo, o Salvador que estava mudando a vida das pessoas e um grupo cada vez maior de seguidores estava se formando. Isso tudo incomodou e suscitou a inveja de alguns.

“Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica”. Romanos 8:33.

A acusação se tornou uma arte para algumas pessoas. Mas o que eu posso falar é o que a bíblia deixa claro: que os escolhidos de Deus não serão condenados pelos acusadores.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O olhar da psicologia sobre a Inveja



"Pois, onde há inveja e egoísmo, há também confusão e todo tipo de coisas más." Tiago 3:16

A inveja, um dos sete pecados capitais, é o desejo por atributos, posses, status ou habilidades de outra pessoa. Pode também ser definida como “o deslocamento da energia do potencial de determinado indivíduo para a exacerbada preocupação com a satisfação e prazer de outra pessoa, geralmente íntima do sujeito em questão”.

Todos nós sentimos naturalmente inveja (o que nos consola profundamente), seja de uma forma mais ou menos positiva. Mas quantas vezes na nossa vida somos vítimas da inveja desenfreada de pessoas com quem somos obrigados a conviver?

Pois bem, o fato é que a inveja existe e está presente em todas as esferas do relacionamento humano, manifestando-se em todas as vertentes do nosso cotidiano. Entre amigos, colegas ou até familiares são frequentes as invejas motivadas por comparações desfavoráveis do status de uma pessoa em relação à outra.

Aliada ao ciúme, à mágoa, à falta de auto-estima ou à falta de iniciativa em conseguir obter o que os vitoriosos obtêm, a inveja pode, contudo, ser positiva: quando tomamos alguém bem sucedido como referência para atingirmos o que ele conseguiu atingir, rumo ao sucesso. Neste caso, é necessária uma auto-estima que te torne confiante nas tuas capacidades.

Por outro lado, o invejoso, sendo uma pessoa frágil, rende-se à sua própria insignificância provocando, antes disso, graves prejuízos na vida do invejado. A crítica é um exemplo, sendo das máscaras da inveja a mais sutil e, ao mesmo tempo, a mais evidente. Isto porque, sempre que caluniamos alguém (ou o criticamos destrutivamente) será porque nos sentimos inferiores a essa pessoa. Daí essa necessidade em falar mal da pessoa que tanto invejamos.

"Num certo dia uma cobra voraz desejava a todo custo abocanhar o inofensivo vagalume. Ao que o último lhe pergunta: "Serpente, tu que és tão poderosa porque me desejas aniquilar?". A serpente respondeu-lhe: "O teu brilho fascina-me e como eu não o posso ter, ninguém mais o terá. Por isso quero-te devorar."

Mas porque não viver bem com o sucesso dos outros? Habitualmente, a inveja é formada a partir do momento em que as qualidades do outro são comparadas, faltando uma avaliação do meu próprio potencial. Estes sentimentos de grande frustração e de inferioridade são gerados pelo fato de a pessoa não ser capaz de realizar ações minimamente úteis para si e para os outros, consolidando-se assim o complexo de inferioridade relativamente a pessoa invejada.

A comparação que fazemos entre nós e o outro pode ser geral - quando comparamos as qualidades psicológicas, morais, sociais ou espirituais - ou específica - quando comparamos as posses materiais, como a casa, o carro, a roupa, o dinheiro ou o porte físico.

Psicólogos afirmam que “talvez este processo venha da convivência no ambiente familiar, onde comparações são frequentes”. A sociedade partilha também responsabilidades neste processo: desde muito cedo somos comparados com aquela que é mais bonita ou com aquele que tira boas notas. Esse tipo de críticas comparativas geram um sentimento de humilhação que nos faz sentir incapazes de obter o que o outro tem.

Na escola, na família ou na sociedade em geral a competição baseada na idéia de que o outro não pode ser melhor do que eu acaba por gerar insatisfação comigo próprio, fazendo crescer na sociedade um sentimento geral de desamor social.

A inveja não é mais do que um sentimento de inutilidade que gera uma revolta por não sermos como os outros são. Quantas vezes não reparamos o tom de desinteresse e incômodo por parte das pessoas quando falamos em algo positivo que nos aconteceu? E quantas vezes contamos uma tragédia que se passou com alguém que, pelo contrário, desperta o interesse de todos?

Cada um tem as suas potencialidades e peculiaridades que me podem tornar vitorioso. Como tal, é na auto-comparação que eu reconheço as minhas próprias capacidades. É esta procura de mim mesmo que permite a valorização pessoal.

Assim, quem sai mais prejudicado da inveja não são os outros, mas quem inveja. Ela é destrutiva, corrói a auto-estima, destrói o crescimento individual, destruindo a sua auto-aceitação porque não produz mudanças favoráveis ao desenvolvimento do invejoso, enquanto pessoa.

Contaminado pelo ódio, o invejoso aproveita-se da projeção, tornando más as pessoas que são boas e, por não conseguir obter o que o invejado consegue, faz com que as qualidades do indivíduo invejado fiquem escondidas, por não as querer perceber perante os outros, numa tentativa de raiva e tristeza por tudo o que ele tem e conquista.

Frustrado, e por negar os próprios sentimentos negativos que há dentro de si, o invejoso coloca todo o tipo de sentimentos maus naquele que é o objeto da sua inveja. Posto isto, e sendo o efeito mais devastador da inveja, ela é fator de bloqueio de qualquer potencial criativo.

"Só haveria algo positivo na inveja se pudéssemos reproduzir fielmente o modelo de vida de alguém realmente criativo." António Carlos (psicólogo)

Texto: Ana Costa.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

As Duas Marias



Lá no sertão de Pernambuco, viviam duas vizinhas por nome Maria. Uma era Maria das Dores e a outra Maria da Penha. Cada uma tinha oito filhos, e seus maridos, lavradores, plantavam milho, feijão e criavam uns poucos animais.

O rio secara e a única água ficava no poço do Biguá. Era longe, uns oito quilômetros, e as vizinhas tinham que ir com os baldes na cabeça e nas mãos, para fazer render a viagem. Era muito duro.
Maria das Dores ia cantando e Maria da Penha lamentando.

Maria da Penha lamentava a pobreza, a miséria, a desgraça, a seca e a fome. Maria dos Dores, pelo contrário, ia cantarolando. “É isto que me faz cantar; é isto que me cantar; dos meus pecados livre estou e para o Céu eu vou, é isto que me faz cantar”. Ela reagia diferente de Maria da Penha, pois, ao invés de lamentar, ela cantava.

“Ô, das Dores, porque tu cantas alegre nessa miséria tão grande? Tu estás louca? Xingue, mulher! Tens direito de reclamar!”, dizia sempre Maria da Penha.

“Mas, da Penha – exclamava a Maria das Dores – quem está seco é o chão e não o meu coração!” A amiga não entendeu. Mas Maria das Dores explicou: “Tem seca pior do que essa, mulher! É a secura da alma. Quando soube que Jesus sofreu muito mais para pagar pelos meus pecados, eu vi que meu sofrimento era pouco. Jesus agora vai comigo e me dá coragem!”

Eram duas Marias, mas uma enfrentava a seca com esperança e a outra com desgosto.
Se convidarmos Jesus para se o nosso Salvador e Senhor, Ele virá e fará dentro de nós um rio que nunca se seca. Ele disse: “Quem crer em mim terá dentro de si rios de água abundante” (João 7:38). Fale com Ele agora, em oração. Ele regará a sua alma e lhe colocará uma canção alegre mesmo na mais dura seca.

Texto: Wagner Antônio de Araújo