terça-feira, 4 de outubro de 2011

As meninas chegaram!



Recebi este relato e a minha preocupação com os rumos da nossa sociedade me fizeram postar esse texto no Blog. Leia e reflita! Veja na parte final deste texto as tristes consequências que esta realidade tem trazido.

"Quando os relógios marcam 17h, encerrando o expediente no Comperj, elas já estão de prontidão na primeira curva da Rua S, quase esquina com a RJ-116. Tatuagens à mostra, shortinhos jeans, mini-saias, óculos escuros modelo anos 70 e panfletos amarelos nas mãos: a ‘blitz’ do sexo aguarda a passagem das dezenas de vans, ônibus e automóveis que saem do canteiro de obras. Às 17h10, quando os primeiros veículos começam a passar, uma delas toma à frente. Braço direito estendido, mão espalmada indicando ‘pare!’, avança na pista abrindo caminho para o ‘pelotão’ e interrompe o trânsito com a autoridade de uma policial militar. De repente, vira de costas para a estrada, inclina levemente as costas, arrebita as nádegas, ‘mira’ o bumbum para o próximo ônibus e arria, de sopetão, a calça de moleton. É o início da ‘emboscada’.

O alvo, no final de tarde daquela sexta-feira, 8 de julho, era mais uma vez os cerca de quatro mil operários contratados de firmas terceirizadas da Petrobras. ‘Ferido’ pelo ataque surpresa, o motorista do ônibus se ‘rende’ e mete o pé no freio. A cena do ‘bumbum’ revelado cai como uma granada no interior do coletivo e explode em euforia. O ônibus ganha vida, braços e cabeças nascem pelas janelas como um bicho surreal feito de ferro, gente e pneus. Dele, bocas gritam ao mesmo tempo expressões impublicáveis enquanto mãos procuram os panfletos amarelos empunhados pelas garotas de uma ‘boate’ de Papucaia, distrito de Cachoeiras de Macacu, a 13 km da Rua S. A panfletagem do endereço da casa de saliência vira, então, um aperitivo de show pornô a 4 km do canteiro de obras do maior polo da indústria petrolífera do País.

As meninas de Papucaia não são as únicas a prospectar novos clientes. Garotas de programa de São Gonçalo já têm uma rede de contatos com encarregados de obras e operários dos alojamentos que surgem da noite para o dia na região. É o caso da estudante de enfermagem e massoterapeuta Andressa. Por telefone, diz ter corpinho tipo ‘mignon’, 1,62 de altura, 62 quilos, manequim 38, olhos castanhos e cabelos negros chanel. Há um ano e meio aproveita os dotes físicos para fazer programas e ganhar dinheiro extra a fim de pagar a faculdade. “A minha agenda tem o nome de quatro encarregados de firmas terceirizadas do Comperj. Um indica o outro. Três são mineiros e um, paulista”, revela Andressa, que aumentou a sua clientela anunciando seus serviços em classificados de jornais.

A ‘demanda’ extra do Comperj ‘aqueceu’ seus rendimentos em 40%, entre 15 a 20 encontros a mais por mês. Cada um, de uma hora de duração, sai por R$ 100. Se for 24h, custa R$ 600. As meninas de Papucaia ganham R$ 120 pelo mesmo período, mas têm que dar um percentual para o ‘cafetão’. Para entrar na boate, os operários pagam mais R$ 30, o que encarece a diversão. Aí, as garotas de São Gonçalo saem na frente. “Eles ligam sempre entre os dias 10 e 15 de cada mês, nós vamos de mototáxi até o Comperj. Os programas são feitos em hotéis e nos alojamentos, mas nem sempre é sexo, às vezes é só conversa. Eles são muito bacanas”, elogia Andressa, que também tem curso de vigilante.

A chegada do Comperj e a expectativa de contratação de mais 10 mil operários até 2014, quando o complexo estará funcionando, abriu as portas de um mercado de trabalho - até então inédito em Itaboraí - para profissionais do sexo e oportunidades de negócios clandestinos para ‘rufiões’ de cidades vizinhas. O efeito colateral da prostituição, que chega a reboque de empreendimentos dessa magnitude, preocupa moradores de Sambaetiba e de cidades vizinhas.

O tema prostituição já entrou na pauta de discussão da Agenda 21 de Itaboraí e do Movimento de Mulheres da cidade. Segundo a coordenadora geral do fórum, professora Ivone Chaves, o problema é tratado como uma questão de saúde e de segurança pública.
“A prostituição, que antes não existia dessa forma por aqui, está visível. Manilha, hoje um polo comercial, é um dos pontos usados por mulheres que vêm de fora. As políticas públicas não caminham com a mesma velocidade dos efeitos colaterais causados pelo Comperj. Há a preocupação da disseminação das DSTs e o crescimento do tráfico de drogas. A pobreza aliada ao aumento da oferta de drogas passam a incluir o sexo nesse mercado paralelo”, analisa Ivone.

“Nossa preocupação é proteger as crianças e os jovens daqui, para que não sejam assediados e aliciados por essa rede. Uma menina com menos de 10 anos de Itambi, onde dou aula, se prostituiu para comprar fraldas para a irmã mais nova e mantimentos para a família, porque não tinham o que comer. Não vejo planejamento por parte da administração pública e, se continuar assim, a situação vai se agravar e a cidade vai ficar perdida, vai se tornar um caos”, alerta a coordenadora.

Segundo o secretário de Saúde de Itaboraí, César Alonso, o número de registros de atendimento a pacientes portadores de doenças sexualmente transmissíveis dobrou no município. “O de maior incidência é a gonorréia”, revelou. "

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