segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A arte de cativar em meio à destruição



Em janeiro deste ano a região serrana do estado do Rio de Janeiro foi atingida por uma grande catástrofe natural e eu fui até lá com uma equipe de voluntários. Inocentemente eu esperava que pudesse ajudar aquelas pessoas que perderam tudo. Alguns perderam suas casas, outros todos os seus bens e até seus queridos familiares. Mas quando eu vi o tamanho da destruição percebi que o que eu poderia fazer ainda pouco demais.

No meu coração o desejo era fazer a diferença na vida das pessoas que eu encontrasse, então fui com o grupo de voluntários até uma escola onde agora serve de abrigo para algumas famílias e diversas crianças, inclusive crianças que perderam seus pais. Enquanto alguns voluntários vestidos de palhaços brincavam com as crianças uma das mães passou mal e teve que ser carregada para um posto de saúde.

Essa mãe estava morando nesta escola com seu marido e seus 3 filhos, todos pequenos. Uma das crianças começou a chorar, mas não era qualquer choro, era um choro de desespero. Aquela menina estava com medo de perder o que ela tinha de mais importante naquele momento, a mãe.

Eu comecei a ficar desesperada também com aquele choro tão intenso e fui ao encontro da menina. Peguei-a no colo e coloquei contra o meu peito, balançando como se tivesse uma música de ninar e dizendo no ouvidinho dela: “Sua mãe só foi no médico tomar um remedinho e já está voltando”. Ela desesperada por um carinho me abraçou como se me conhecesse há muito tempo e parou de chorar.

Naquele comento percebi que não era eu que estava fazendo a diferença na vida dela, mas aquela pequena menina estava fazendo A diferença na minha vida. Senti seu coraçãozinho batendo forte e descompassado e juntas voltamos a bater o coração na medida certa, à medida que uma criança deve bater o coração.

Posso afirmar que mesmo sendo adulta, meu coração voltou a bater como o de uma criança. E com toda certeza eu nunca mais esquecerei esse dia, o dia que eu fui cativada por uma linda menininha.

Foto: Arina Paiva.

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